Bem, é certeza que o rock como era originalmente é hoje peça de museu, mantido em formol na cabeça de alguns poucos saudosistas, assim como eu, o rock cresceu. Muito, aliás. Demais até. Tal como um câncer de células embrionárias, acabou crescendo além da conta e tomando as mais bizarras formas imagináveis. Dos primórdios, com Chuck Berry, até a situação atual, que engloba vertentes das mais diferentes, de Belle and Sebastian a Sepultura, tudo mudou. Mudaram os artistas, mudou a audiência e, principalmente, mudou o mercado e as condições de comercialização desse tipo de música.O rock and roll tem suas origens no blues norte-americano, música predominantemente negra em suas raízes, e acaba surgindo no pós-guerra, na transição dos anos 40 para 50. Nada mais lógico que um ritmo mais alegre (sim, rock já foi sinônimo de alegria).
O primeiro disco considerado rock and roll surgiu muito antes do próprio nome do gênero, em 1951, com o lançamento de Gee pela banda The Crows. Mas o nome mesmo só surgiu em 1954, quando Alan Freed criou um festival chamado Rock’n’Roll Jubilee. Há diversas interpretações. Desde trepar (não exatamente em árvores) até algo como "botar pra quebrar".
Há algum consenso de que o gênero surgiu a partir de 1955, com Bill Haley e Seus Cometas lançando Rock Around the Clock, um equívoco histórico a ser sanado um dia. Talvez num futuro paranóico ao estilo de 1984, de George Orwell. Mas esse é outro assunto.
A partir desse ponto, a popularidade do rock subiu no rabo dos cometas de Bill Halley, que em 1955 deu um tom mais branquela à música. Mais tarde naquele mesmo ano, o estouro de Chuck Berry era o big bang de uma nova linhagem, mais pesada, do rock and roll.
Em 1956, surgem Elvis Presley (o rei do rock americano) e Little Richard (que tendia mais à vertente "berryana"). Elvis, aliás, foi uma ovelha retirada do rebanho do Senhor bem a tempo: antes de a luz do rock invadir sua vida e lhe dar fama e fortuna sem aparentemente ter passado por uma encruzilhada, ele animava cultos evangélicos no interiorzão dos EUA. O diabo, dizem, é pai do rock. Outros dizem que o diabo são os outros…
Vemos, a partir daí, o surgimento de toda uma constelação de nomes, de Stevie Wonder a Buddy Holly. Note-se aí a inclusão de nomes tipicamente associados ao que se convenciona chamar hoje nos EUA de rhythm and blues (que na verdade de blues não tem NADA), como Wonder, Ray Charles e The Marvelettes. Eles geralmente apareciam pela gravadora Motown, que por acaso começou gravando rock and roll. Nada mais apropriado, já que o soul deriva histórica e estruturalmente do rock and roll.
Em 1964, ocorre a grande virada da história do rock, com os Beatles pisando em solo americano e alcançando o primeiro lugar nas paradas. O rock deixa de ser propriedade exclusiva e patenteada dos EUA e passa a ser um fenômeno mundial depois de invadir o outro lado do piscinão Atlântico.
Pode-se facilmente imaginar o frenesi que isso causou em terras ianques. Para os americanos da gema, isso seria mais ou menos como o iraque ganhar uma guerra. Absurdo!
Logo em 1965, começa-se a sentir mais e mais influência de Robert Allen Zimmerman (ou Bob Dylan) e de elementos químicos na música dos Beatles e, por conseqüência, no rock como um todo. Outra banda britânica, liderada por um magrinho bocudo e rebolante, também exercia influência nos dois lados do oceano nessa época. Eram os Rolling Stones.
Em 1966, os Beach Boys lançam Good Vibrations, que eleva a elaboração a um gênero considerado visceral naquela época. Vocais bem arranjados, experimentações sonoras, dissonâncias e quebras de compasso: o rock deve muito disso tudo a Brian Wilson e seus comparsas que acabaram sendo (injustamente) remetidos à posteridade pela "humilde" Surfin’ Safari. Ou também por Surfin USA (mal traduzido no Brasil, numa ilimitada armação, como "Surf é o que eu sei"). Mas sempre surf.
Os americanos ainda teriam com o que colaborar com o rock and roll sessentista e setentista, principalmente com o protesto de Dylan, a psicodelia elétrica e polifônica da guitarra de Jimi Hendrix e a poesia lisérgica de Jim Morrison.
Nesse momento, ocorre também a associação do principal expoente da chamada pop art norte americana, Andy Warhol, a cantora Nico e o músico experimental Lou Reed, gerando algo que nunca havia sido visto antes o Velvet Underground. Pioneiro de um novo som, um fracasso comercial, mas que em última análise nos trouxe Sonic Youth e Beck. Há uma frase célebre sobre a banda que diz "apenas uma centena de pessoas compraram o primeiro disco do Velvet. Mas cada uma delas montou uma banda de Rock and Roll". Algum tempo depois John Lennon, babando pela artista plástica Yoko Ono, seguiria o mesmo caminho com sua Plastic Ono Band. O Talking Heads também bebeu do experimentalismo velvetiano.
Na seqüência, uma segunda onda britânica gerou fenômenos como o proto-heavy metal de Led Zeppelin e Black Sabbath e a progressividade quimioturbinada do Pink Floyd.Também havia o "rock sinfônico" do Deep Purple, que avançou com todos os talheres nas vísceras do rock depois de se apresentar em 1969 com a Royal Philarmonic Orchestra com seu "Concerto for Group and Orchestra" —uma partitura escrita com cuidado numa parceria entre o tecladista Jon Lord e o maestro Malcolm Arnold, fundindo as linguagens clássica e elétrica para um duelo de titãs.
Ao mesmo tempo o underground musical, que se alimentava das cinzas de Hendrix e Janis Joplin, começa a dar sinais de vida com o estouro do movimento punk, também surgido na Inglaterra. Com a contradição entre surgir da simplicidade de três riffs, rebeldia social e atitude faça-você-mesmo e ser lapidado nos mofados escritórios de estúdios musicais, o ritmo deixou marcas profundas na música mundial com nomes como Sex Pistols, Clash e Stooges.
Os anos oitenta viram o nascimento da MTV e uma mudança da preocupação com a parte musical para a parte comercial. Surgiram aqui nomes que discute-se a inclusão em nossa retrospectiva, como Tina Turner, Elton John, Michael Jackson (advindo dos primórdios roqueiros da Motown) e Madonna. A experiência também degringolou, tornando fácil salvar um som ruim com um bom produtor de vídeo.
A partir de meados da década começam a surgir novas bandas, desta vez fazendo o que se poderia tachar de "rock de verdade". Nomes como The Police, U2, Dire Straits e Aerosmith estouram nas paradas de todo o mundo.
Começa também a surgir à chamada nova onda do heavy metal inglês, bebendo direto nas protoexperiências de Black Sabbath, Led Zeppelin e Deep Purple, com sua temática por vezes lembrando filmes de terror, por vezes lembrando cavalarias medievais e sempre com legiões de seguidores fanáticos, de cabelos compridos e jaquetas remendadas com suas estampas. Nomes&qt& Iron Maiden, AC/DC e muitos outros que criaram uma linhagem que viria a desembocar em Sepultura, Korn e Queens of the Stone Age em nossos dias. E nojeiras como Napalm Death, Carcass, Defecation e Disharmonic Orchestra há dez anos.
Começa a pipocar mundo afora nomes que acabariam ecoando mais adiante, e é em meados da década de 90 que o impensável acontece. Grandemente influenciados por nomes do quilate do Sonic Youth e do Soundgarden, surge em Seattle uma banda que conseguiu juntar o desprendimento do rock alternativo com o sucesso comercial tão almejado pelos figurões da cena musical, o Nirvana. Capitaneado pelo falso messias Kurt Cobain, a partir do álbum Nevermind as portas se abririam para praticamente todos os nomes, bons e medíocres, que o gênero nos traz hoje.
13 de Julho
Um cara chamado Bob Geldof, vocalista da banda Boomtown Rats, organizou aquele que foi sem dúvida o maior show de rock da Terra, o Live Aid – uma perfeita combinação de artistas lendários da história da pop music e do rock mundial, e isso aconteceu no dia 13 de Julho de 1985.
Além de contar com nomes de peso da música internacional, o Live Aid tinha um teor mais elevado, que era a tentativa nobre de conseguir fundos para que a miséria e a fome na África pudessem ser pelo menos minimizadas. Dois shows foram realizados, sendo um no lendário Wembley Stadium de Londres (Inglaterra) e outro no não menos lendário JFK Stadium na Filadélfia (EUA).
Os shows traziam um elenco de megastars, como Paul McCartney, The Who, Elton John, Boomtown Rats, Adam Ant, Ultravox, Elvis Costello, Black Sabbath, Run DMC, Sting, Brian Adams, U2, Dire Straits, David Bowie, The Pretenders, The Who, Santana, Madona, Eric Clapton, Led Zeppelin, Duran Duran, Bob Dylan, Lionel Ritchie, Rolling Stones, Queen, The Cars, The Four Tops, Beach Boys, entre outros, alcançando uma audiência pela TV de cerca de 2 bilhões de telespectadores em todo o planeta, em cerca de 140 países. Ao contrário do festival Woodstock (tanto o 1 como o 2), o Live Aid conseguiu tocar não somente os bolsos e as mentes das pessoas, mas também os corações. O Live Aid conseguiu em 16 horas de show acumular cerca de 100 milhões de dólares, totalmente destinados ao povo faminto e miserável da África. Isso é a cara do ROCK AND ROLL!
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